Opinião
O poder do dinheiro na diplomacia desportiva
07 de Junho, 2018
Quando Terry George decidiu dirigir o filme “Hotel Ruanda”, retrato histórico real de Paul Rusesabagina que foi capaz de salvar a vida de 1268 pessoas durante o genocídio ruandês, em 1994, tiraram-se inferências dos prejuízos que emergem dos conflitos étnicos. Esta conclusão foi ainda sustentada no livro “Sobrevivi para contar”, de Immaculee Ilibagiza.
O Ruanda teve de se erguer, deixar para trás as divergências tribais e trabalhar para o seu desenvolvimento. Particularmente, conheci Kigali (cidade fresca e limpa) aquando do jogo que carimbou o passaporte dos Palancas Negras ao mundial da Alemanha. Senti que era uma cidade com vontade de dar a volta por cima, para mostrar ao mundo que os ruandeses estavam determinados a lutar para uma causa única: o combate às diferenças e à pobreza.
Partilhei algumas informações com o nosso António Ferreira “Aleluia”, a caminho do Estádio Amahoro e, no sorriso branco da gente de Kigali, percebia-se o quão acolhedora era a cidade. Disse-me o “Aleluia”, esta será a cidade turística do futuro. Apesar de ver beleza e sentir a lufada paisagística, mesmo assim, franzi o sobrolho. A memória ficou, naquele instante, presa ao “Hotel Ruanda” e ao romance de Immaculee. Tudo parecia muito recente e não era justo pedir mais do que já encontramos na cidade.
Estávamos no Estádio, posicionados num lugar que víamos o presidente Paul Kagame. Entre nós, estava uma jovem ruandesa, linda p’ra xuxú, vestida com as cores angolanas. Envolveu-se em todo aquele clima de festa, sob o olhar esbugalhado, à flor do rosto, dos seus concidadãos. O gesto ocasional da amiga de Kigali levou-me a compreender de que havia uma ténue razão: estava a nascer a cidade turística do futuro.
Dizer que o Ruanda não é um país pobre, era arriscar de mais, pois, as evidências dizem que sim. Segundo dados das Nações Unidas, 60 por cento da sua população vive com menos de 1,60 euros por dia. A pobreza abrange todo o país, mas tem especial enfoque às crianças. A ajuda externa representa 17 por cento do orçamento do país, quando há uma década representava 80 por cento.
Mas, hoje por hoje, contrariando algumas posições internas, e não só, Paul Kagame, que vai protagonizando algumas surpresas (agradáveis) na liderança do Ruanda, decidiu apostar tudo, num arriscado exercício de “toma lá, dá cá”. O ano passado, o Ruanda lucrou 346 milhões de euros com o turismo e o presidente pretende atingir os 800 milhões até 2024. O que fez? Apostou cerca de 30 milhões de euros no Arsenal da Inglaterra.
Para quê? Para esta equipa usar o slogan” Visite Ruanda” nas mangas do equipamento. Claramente, noves fora a ousadia presidencial, direccionou a sua economia essencialmente ao turismo. E se o fez, é porque acredita. Aliás, a Taag vai voar para o Ruanda. Provavelmente outras companhias também o façam, numa visão estratégica de exploração turística. Por via do Arsenal, vai surgir um momento publicitário tido como o“às de trunfo” da diplomacia desportiva e porta aberta para o desfrute turístico local.
Grosso modo, parece haver ganhos com a diplomacia desportiva, sobretudo, quando a pretensão é alavancar o turismo e obter receitas para o PIB. Aquando da entrada de Rui Campos para o Comité Executivo da Conferência Africana, a nossa imprensa desportiva considerou como uma “retumbante vitória” para a diplomacia desportiva. Se sim, ou não, os resultados depois falarão por si, o mesmo vai suceder com o Ruanda de Paul Kagame. Cada um arrisca da forma que achar melhor. Com ou sem dinheiro. Se investir não é gastar, os resultados ruandeses vão responder.
Agostinho chitata
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