Zé Cazenga, quase abandonei o motocross

Zé Cazenga, piloto de motocross, desabafa
Fotografia: Nuno Flash
Disse que abandonaria o motocross caso o Conselho de Disciplina da Associação Provincial de Luanda não resolvesse o caso de uma irregularidade ocorrida durante a 12ª jornada do campeonato provincial, que decorreu no Circuito de Porto Amboim, a 23 de Outubro. É verdade?
Sim. Era meu desejo abandonar o motocross, muito por algumas situações que foram acontecendo. Percebi que estava mal na modalidade.
O que aconteceu de facto?
O facto ocorreu quando liderava a prova, na segunda volta da primeira manga, e um dos pilotos caiu aparatosamente. Na sequência, o fiscal de pista exibiu a bandeira amarela, que, de acordo com os regulamentos, anuncia perigo e exige a redução de velocidade. Aceitei e, atrás de mim, em segundo lugar, vinha o Carlos Soweto, que aproveitou para me ultrapassar, alegando que não lhe foi exibida a bandeira pelo fiscal. O desrespeito pela bandeiras implica a desqualificação do piloto na manga, de acordo com o regulamento.
O Carlos Soweto não foi penalizado?
Não. Escrevi uma carta em que mostrava o meu descontentamento ao Conselho de Disciplina da Associação Provincial de Motocross de Luanda, mas os seus membros reuniram-se e concluíram que o Soweto não viu a bandeira. Como é possível apenas ele não ter visto, quando ele confirma que se apercebeu da redução que fiz? É impossível, porquanto muitos populares que assistiam à prova se deslocaram, em grande número, ao local do acidente.
Sentiu-se muito triste por não ter conseguido revalidar o título de campeão provincial por causa desta falha?
Até que não. Haviam bons corredores e qualquer deles poderia vencer. Por isso, não fiquei triste com o resultado. Há bons pilotos e quem venceu, mereceu. Estou nisto há muito tempo e vou continuar a trabalhar para voltar em forma na próxima temporada. Saliento aqui que perdi o campeonato por causa de algumas irregularidades que foram acontecendo ao longo do campeonato.
A disposição será seguramente outra...
Claro que sim. Além de acreditar muito em mim e na equipa, vou dar o máximo. Garanto que, enquanto houver possibilidades, estarei na máxima força.
Além da que nos contou, deram-se outras situações menos boas?
Na nona prova do Campeonato Provincial de Luanda, fiz uma ultrapassagem ao Carlos Soweto e dei-lhe uma volta de avanço. Quando cortei a meta, era na mesma altura que tentava dar a segunda volta. Ou seja, ele devia dar mais uma volta para me igualar, o que não aconteceu.
Quer dizer que existe ma fé contra si?
Não sei porquê, mas existe. Noto que há algumas pessoas que não gostam de mim, embora não sejam obrigados a gostar.
Pode apontar alguns nomes?
O senhor Roberto Talaia, vice-presidente da Associação Provincial de Motocross de Luanda, pai do piloto Jandir Talaia, para mim, não é bom.
Explique-se melhor...
Sinto que sou muito prejudicado nas provas. O que aconteceu em Porto Amboím é um exemplo disso. Na maioria vezes em que fui penalizado na presença do presidente da associação houve um esclarecimento, mas com o senhor Talaia não acontece o mesmo. Ele nunca esclarece o porquê das punições e havia me dito que era o único que me poderia tirar da modalidade.
Alguma razão de fundo para tal pronunciamento?
Não sei. Acho despropositado, até porque o presidente não estava lá. Não guardo rancor a ninguém, simplesmente amo o motocross.
Foi por isso que pensou em abandonar a modalidade?
Sim. Por tudo o que aconteceu, achava que era melhor sair, para evitar conflitos. Só que fui aconselhado, pensei bem e decidi continuar a correr.
Piloto defende alargamento
da modalidade a todo o país
Que balanço faz da última época?
Foi positiva, dada a competitividade que houve entre os pilotos. Surgiram bons novos corredores que vão, de alguma forma, ajudar a dinamizar a modalidade. Este ano, lutei para revalidar o título, mas infelizmente não consegui.
Sente-se frustrado por não conseguir revalidar o título?
Não. Sou bi-campeão provincial e, durante muito tempo, estive à frente do campeonato. Sei que um dia tinha que perder. Como desportista, deve-se saber perder. Dou os parabéns ao Carlos Soweto, mas fico um pouco triste porque este ano trabalhei bastante, tanto física como mentalmente, para vencer o campeonato.
Começou o campeonato à frente. O que ocorreu para, aos poucos, perder terreno no topo da tabela classificativa?
Começamos realmente com vitórias e a meio da temporada liderávamos o campeonato. Depois, tivemos uma fase menos boa, em que problemas mecânicos não nos permitiram continuar à frente.
Que expectativa tinha inicialmente?
No início do campeonato, tinha noção da competitividade e experiência dos meus adversários. Como tal, não sabia se teria condições para assumir a candidatura ao título, o que não quer dizer que o nosso objectivo não fosse lutar pelo campeonato.
Então, ser campeão era a meta?
Antes da corrida para saudar o dia da Independência Nacional, tinha condições de lutar pelo campeonato. Tudo fiz para o conseguir, mas também sabia as dificuldades por que tinha de passar e que tudo dependia de alguns factores. Um deles, e que aprendi ao longo da minha carreira, é a sorte. Foi o que me faltou.
Que mudanças gostaria de ver implementadas na modalidade?
É de realçar o elevado número de pilotos que lutam pela vitória em todas as provas e motivante o grande público que acorre aos circuitos para assistir às competições. Voltando à sua questão, gostaria que o motocross se assumisse como uma competição de referência no país, com provas em todas as províncias de Angola.
Que adversários lhe dão mais luta em pista?
Tenho respeito por todos. O motocross possui um leque de pilotos de grande nível, que poderiam lutar por vitórias em muitos campeonatos que se disputam fora do país. É motivante lutar contra todos eles.
"Modalidade em Luanda ainda é fraca"
Que análise faz da sua carreira?
Acredito que estou bem. Fui campeão duas vezes e este ano fiquei em segundo lugar no campeonato provincial. Espero voltar ao topo em 2011. Sei que tenho muito para fazer a dar, pelo que vou continuar a trabalhar com o mesmo afinco.
Fale-nos do motocross em Luanda.
O desporto motorizado em Luanda ainda é fraco. Espero que os incentivos, além do que o Governo dá, sejam maiores para o desporto fazer parte da vida dos jovens, afastando-os de maus caminhos.
Temos pilotos capazes de manter a modalidade por muito tempo?
Vêm aí bons miúdos na especialidade de 150cc. A Associação tem uma escola e, se continuar, vamos ter bons pilotos e muita competição. Seria bom que a modalidade se estendesse por todo o país e não existisse só em Luanda. Será bom termos um campeonato nacional de motocross.
Já há condições para o efeito?
Estive em províncias como Cabinda, Huambo, Huíla e Benguela e deu para ver que nelas há muitos pilotos para competição, desde que sejam ajudados por empresários e outras pessoas interessadas.
Vocês encontram dificuldades para arranjar patrocinadores?
Sim. Quando comecei a carreira, tinha o apoio de colegas, como o Narciso José, o Jorginho e do senhor Jorge Varela. De lá para cá, luto para ter o suporte de que preciso, como moto, peças e tudo o que um atleta deveria ter.
Um piloto do seu calibre tem de sacrificar a vida fora das pistas...
Ser piloto é difícil, pois temos de deixar muitas coisas para trás. A alimentação e os treinos têm de ser rigorosos.
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