Sociedade

Da venda do peixe consegue sustentar formar e dar dignidade aos três filhos

Fula Martins | Soyo

Jornalista

Celestina Miguel Fernando tem 37 anos, natural do Soyo, província do Zaire. É mãe de três filhos. Perdeu o marido num aparatoso acidente de viação, no troço Soyo/Kinzau.

28/03/2024  Última atualização 07H20
Celestina Miguel Fernando, jovem peixeira da Vila do Soyo © Fotografia por: Adolfo Dumbo| Edições Novembro | Soyo
Com a morte do marido, a jovem mulher Celestina, que meses antes tinha sido dispensada do serviço, numa clínica privada, no Soyo, que decretou falência, começou a deparar-se com mil e uma dificuldades.

Como jovem mulher, Celestina Miguel Fernando tinha a plena certeza de que podia ultrapassar as mil e umas dificuldades, isto é, com força de vontade e socorrendo-se a um trabalho digno.

Na altura, o trabalho digno, como disse ao Jornal de Angola, foi da venda de pescado, ou seja, de peixeira.Não encontrou dificuldades para se inserir no meio de outras peixeiras, algumas com mais de 10 anos nestas lides,

"Receberam-me como uma filha e irmã querida. Como peixeira aqui, sinto-me como o próprio peixe na água”, referiu Celestina, exibindo um sorriso, num dia que era de celebração por ter vendido bem o peixe.

A jovem mulher peixeira contou que além das mil e umas dificuldades, das quais se deparou, após a morte do marido, o facto de que quando tinha os seus 22 anos, o irmão mais velho, de quando em vez, mandava-lhe a Praia do Paulo Manuel e do António Peixe, para a compra de peixe para as refeições de casa.

Durante a ida a essas praias, lembrou, fez amizade com todas as peixeiras, que hoje são suas colegas e mestres de venda de pescado, levou-lhe a ganhar o gosto de ser peixeira, uma profissão secular, cujas profissionais, em vários pontos do país, e não só, conseguiram e conseguem, com os lucros da venda, sustentar a família e formar os filhos.

Moradora do Bairro Kimpanji, arredores da Vila do Soyo, Celestina, além de comercializar o pescado na Praia onde adquiri o produto, também, de quando em vez, passa de rua em rua a apregoar o bom peixe a bom preço e com desconto.

Como qualquer actividade, realçou a jovem Celestina, a de peixeira, também, é cansativa.

Celestina tudo faz para conciliar os afazeres de casa e a actividade comercial que exerce. Levanta-se às três da manhã para fazer as lidas da casa e as cinco e alguns minutos parte para o local da actividade.

A jovem mulher peixeira tem o pleno reconhecimento, como sublinhou, dado o apoio e carinho que recebe da mãe, dos irmãos e das colegas, principalmente das mais velhas.

Sobre a relação com os clientes, a jovem peixeira frisou que é de salutar e gaba-se por vender pescado, além de pessoas residentes na Vila do Soyo, as provenientes de Luanda, Benguela, Huambo, Uíge, Caxito e Cabinda.

A falta de um complexo frigorífico está na base, frisou, da deterioração do pescado de muitas peixeiras do Soyo, pois não têm um local para a sua conservação.

É assim que a jovem mulher peixeira sugere à administração Municipal do Soyo, no âmbito do Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), a construção de um mercado para a venda e conservação do pescado.

Aos responsáveis da Administração Municipal do Soyo, Celestina Miguel alerta que os locais onde, actualmente, se estão a comercializar o pescado a grosso e a retalho, não reúnem condições higiénicas.

Constituição de associação

Celestina Miguel Fernando disse ao Jornal de Angola que as peixeiras do Soyo têm a pretensão de constituir uma associação para junto das instituições do Estado verem os seus direitos, não se esquecendo dos deveres, a serem cumpridos conforme a legislação vigente no país..

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